País
"Tiques de ditador". Ministro da Educação debaixo de fogo de estudantes, sindicatos e movimentos
Os estudantes universitários manifestaram repúdio por afirmações que podem "estigmatizar os estudantes de menor rendimento que recorrem à ação social".
As declarações do ministro da Educação, num discurso proferido na terça-feira, geraram polémica e têm sido amplamente criticadas. A Fenprof considerou nas últimas horas as palavras de Fernando Alexandre, sobre a degradação das residências universitárias “porque são ocupadas por estudantes mais pobres”, como “profundamente graves, reveladoras e inaceitáveis num Estado democrático que se diz comprometido com a igualdade de oportunidades”.
De acordo com a organização sindical, as insinuações do governante revelam um “preconceito social explícito”, visto que associam a “pobreza à degradação, como se os estudantes economicamente mais vulneráveis fossem, por natureza, causadores da deterioração dos espaços que habitam”. Jornal da Tarde | 17 de dezembro de 2025
“Trata-se de um discurso estigmatizante. Estudantes pobres não degradam edifícios; o que degrada edifícios é a falta de investimento público, de manutenção regular e de políticas sérias de ação social no ensino superior”, aponta a Federação num comunicado.
A federação sindical que representa os professores acusa o ministro de ignorar ou fingir ignorar que as residências universitárias são infraestruturas públicas e, por isso, a “conservação é da responsabilidade direta do Estado e das instituições que as gerem”. Culpar os estudantes pelo seu estado de degradação, principalmente os de rendimentos mais baixos, “é uma forma de desresponsabilização política”.“Quando um hospital está degradado, não se culpam os doentes; quando uma escola precisa de obras, não se culpam os alunos. Porque razão haveriam os estudantes carenciados de ser responsabilizados pelo mau estado das residências?”, questiona ainda a organização sindical.
As afirmações do ministro Fernando Alexandre são graves, salienta a Fenprof, visto que atingem “diretamente o princípio da democratização do acesso ao Ensino Superior”. As residências universitárias públicas, como sublinham ainda os professores, são uma garantia de que “estudantes de baixos recursos económicos possam estudar, viver e ter sucesso académico”.
A Fenprof adverte ainda que as palavras proferidas pelo ministro da Educação legitimam o desprezo social, reforçam os estereótipos e fragilizam a “confiança dos estudantes nas instituições públicas”.“Num contexto em que o custo de vida, as rendas e as propinas já afastam muitos jovens do ensino superior, este tipo de discurso é não só irresponsável, como politicamente condenável”.
As declarações de Fernando Alexandre são, reforça a Fenprof, “um sinal preocupante de uma visão elitista do ensino superior, incompatível com uma sociedade que se quer justa, inclusiva e democrática”. Tendo tudo isto em consideração, a organização sindical dos professores exige um pedido de desculpas público e uma “mudança clara de discurso e de políticas”.
“ O silêncio ou a normalização deste tipo de afirmações seria, por si só, mais uma forma de degradação — não das residências, mas da própria política educativa”.
Estudantes acusam ministro de "desconhecimento da realidade"
O Movimento Associativo Estudantil também reagiu, já esta quarta-feira, considerando que é fundamental “clarificar o sentido” das afirmações do ministro, “evitando leituras que possam, ainda que involuntariamente, estigmatizar os estudantes de menor rendimento que recorrem à ação social”.
Posto isto, o movimento que junta associações e federações académicas, defende que a “degradação das residências universitárias” resulta de um problema estrutural “há muito conhecido – o subfinanciamento crónico da ação social no Ensino Superior”, assim como, a ausência “de uma estratégia consistente de investimento, manutenção e valorização destas infraestruturas”.
“As residências universitárias degradam-se porque não foram cuidadas, requalificadas ou devidamente financiadas, e não por são frequentadas por estudantes economicamente mais vulneráveis”, declaram os estudantes, numa nota conjunta divulgada nas redes sociais.
Apesar de reconhecer que recebeu com bons olhos “a proposta de um novo modelo de ação social que promove a equidade de oportunidades”, o Movimento Estudantil não deixa de manifestar “preocupação” perante declarações que “possam ser interpretadas como uma associação entre vulnerabilidade social e degradação dos serviços públicos”.
E reforçando que o problema não são os “estudantes de menores rendimentos”, o movimento acusa o Governo de “desconhecimento da realidade social” nestas infraestururas, que só com um “financiamento adequado, poderão garantir modelos de gestão responsáveis e manutenção contínua, assumindo as residências como verdadeiros espaços de integração e igualdade de oportunidades no Ensino Superior”.
O Movimento Associativo Estudantil também reagiu, já esta quarta-feira, considerando que é fundamental “clarificar o sentido” das afirmações do ministro, “evitando leituras que possam, ainda que involuntariamente, estigmatizar os estudantes de menor rendimento que recorrem à ação social”.
Posto isto, o movimento que junta associações e federações académicas, defende que a “degradação das residências universitárias” resulta de um problema estrutural “há muito conhecido – o subfinanciamento crónico da ação social no Ensino Superior”, assim como, a ausência “de uma estratégia consistente de investimento, manutenção e valorização destas infraestruturas”.
“As residências universitárias degradam-se porque não foram cuidadas, requalificadas ou devidamente financiadas, e não por são frequentadas por estudantes economicamente mais vulneráveis”, declaram os estudantes, numa nota conjunta divulgada nas redes sociais.
Apesar de reconhecer que recebeu com bons olhos “a proposta de um novo modelo de ação social que promove a equidade de oportunidades”, o Movimento Estudantil não deixa de manifestar “preocupação” perante declarações que “possam ser interpretadas como uma associação entre vulnerabilidade social e degradação dos serviços públicos”.
E reforçando que o problema não são os “estudantes de menores rendimentos”, o movimento acusa o Governo de “desconhecimento da realidade social” nestas infraestururas, que só com um “financiamento adequado, poderão garantir modelos de gestão responsáveis e manutenção contínua, assumindo as residências como verdadeiros espaços de integração e igualdade de oportunidades no Ensino Superior”.
Educação é direito fundamental
Também a S.O.S. Escola Pública repudiou as declarações de Fernando Alexandre, relembrando que “o acesso à Educação é um direito fundamental para qualquer cidadão e é um pilar essencial de qualquer país que se queira desenvolvido”.
A educação é “o elevador social” e, por esse motivo, é necessário combater as desigualdades sociais que “quebram o paradigma da exclusão e da marginalização”. “Não se trata apenas de justiça social, mas de um investimento necessário para o futuro da sociedade”, afirma a organização numa nota enviada à comunicação social.
A S.O.S. Escola Pública critica o Governo por, em vez de se preocupar com a falta de investimento, se resolver a “segregar a sociedade, marginalizando cidadãos” e “categorizando indivíduos”. E lamentou que o atual executivo de Luís Montenegro seja forte em “definir que o acesso ao ensino e à educação têm que ser pagos”.
“Este ministro é muito infeliz na forma como, habitualmente, se pronuncia e tem tiques de ditador”, concluiu a nota.Ministro “não reúne condições para se manter no cargo”
Entre as condenações públicas destaca-se a do Movimento de Utentes dos Serviços Públicos que não só repudia as declarações do ministro como ainda considera que este não tem condições para se manter no Governo.
As declarações de Fernando Alexandre “insinuam que a presença maioritária de estudantes com menos recursos nas residências universitárias é um fator de degradação dos espaços” – afirmação que o movimento classifica como ofensiva e “profundamente reveladora de uma lógica classista que criminaliza a pobreza e transfere para os mais vulneráveis a responsabilidade por problemas estruturais que o próprio Estado se recusa a resolver”.
Na ótica do MUSP a citada degradação das instituições “não nasce da condição social dos estudantes, mas sim do subfinanciamento crónico, da falta de manutenção, do abandono político e da mercantilização do direito à habitação”. E, nesse sentido, apontar culpas aos estudantes de baixos rendimentos “é uma manobra notória da incapacidade governamental de garantir condições dignas de vida e estudo no ensino superior, e é uma clara violação da Constituição da República”.
“Esta narrativa é perigosa e inaceitável”, declaram os signatários do movimento, que condenam a associação entre pobreza e degradação, que “legitima o preconceito, normaliza a exclusão e reforça a visão elitista da universidade”. “Como se o ensino superior devesse ser reservado apenas a quem pode pagar”.
Declarações demonstram “profundo ódio aos estudantes mais pobres”
A Plataforma Académica Universidade Comum vê as declarações “inaceitáveis” como uma demonstração de “profundo ódio aos estudantes mais pobres e ás suas famílias”. A plataforma de discussão e intervenção, que junta estudantes, professores, investigadores e vários trabalhadores do meio académico, critica ainda o esclarecimento posterior do Ministério da Educação que “não desmentiu aquilo que são as provas factuais das palavras” do ministro.
“No fundo, o esclarecimento só vem confirmar, em tom mais ameno, a visão do MECI sobre a questão: as residências universitárias deterioram-se porque só são utilizadas por estudantes de classes mais desfavorecidas”, afirma a Universidade Comum, que admite não ver “segundas interpretações num assunto tão evidente”.
A plataforma repudia “em absoluto as declarações de Fernando Alexandre”, assim como “a clara intenção de, à imagem de outras áreas das políticas públicas com este Governo, se prepare mais um desvio de fundos públicos para os interesses privados, neste casos o setor imobiliário privado apostado em aproveitar o desinvestimento público em matéria de alojamento estudantil”. Por estas razões, a Universidade Comum entende que Fernando Alexandre deve colocar o lugar à disposição.
Também a S.O.S. Escola Pública repudiou as declarações de Fernando Alexandre, relembrando que “o acesso à Educação é um direito fundamental para qualquer cidadão e é um pilar essencial de qualquer país que se queira desenvolvido”.
A educação é “o elevador social” e, por esse motivo, é necessário combater as desigualdades sociais que “quebram o paradigma da exclusão e da marginalização”. “Não se trata apenas de justiça social, mas de um investimento necessário para o futuro da sociedade”, afirma a organização numa nota enviada à comunicação social.
A S.O.S. Escola Pública critica o Governo por, em vez de se preocupar com a falta de investimento, se resolver a “segregar a sociedade, marginalizando cidadãos” e “categorizando indivíduos”. E lamentou que o atual executivo de Luís Montenegro seja forte em “definir que o acesso ao ensino e à educação têm que ser pagos”.
“Este ministro é muito infeliz na forma como, habitualmente, se pronuncia e tem tiques de ditador”, concluiu a nota.Ministro “não reúne condições para se manter no cargo”
Entre as condenações públicas destaca-se a do Movimento de Utentes dos Serviços Públicos que não só repudia as declarações do ministro como ainda considera que este não tem condições para se manter no Governo.
As declarações de Fernando Alexandre “insinuam que a presença maioritária de estudantes com menos recursos nas residências universitárias é um fator de degradação dos espaços” – afirmação que o movimento classifica como ofensiva e “profundamente reveladora de uma lógica classista que criminaliza a pobreza e transfere para os mais vulneráveis a responsabilidade por problemas estruturais que o próprio Estado se recusa a resolver”.
Na ótica do MUSP a citada degradação das instituições “não nasce da condição social dos estudantes, mas sim do subfinanciamento crónico, da falta de manutenção, do abandono político e da mercantilização do direito à habitação”. E, nesse sentido, apontar culpas aos estudantes de baixos rendimentos “é uma manobra notória da incapacidade governamental de garantir condições dignas de vida e estudo no ensino superior, e é uma clara violação da Constituição da República”.
“Esta narrativa é perigosa e inaceitável”, declaram os signatários do movimento, que condenam a associação entre pobreza e degradação, que “legitima o preconceito, normaliza a exclusão e reforça a visão elitista da universidade”. “Como se o ensino superior devesse ser reservado apenas a quem pode pagar”.
Declarações demonstram “profundo ódio aos estudantes mais pobres”
A Plataforma Académica Universidade Comum vê as declarações “inaceitáveis” como uma demonstração de “profundo ódio aos estudantes mais pobres e ás suas famílias”. A plataforma de discussão e intervenção, que junta estudantes, professores, investigadores e vários trabalhadores do meio académico, critica ainda o esclarecimento posterior do Ministério da Educação que “não desmentiu aquilo que são as provas factuais das palavras” do ministro.
“No fundo, o esclarecimento só vem confirmar, em tom mais ameno, a visão do MECI sobre a questão: as residências universitárias deterioram-se porque só são utilizadas por estudantes de classes mais desfavorecidas”, afirma a Universidade Comum, que admite não ver “segundas interpretações num assunto tão evidente”.
A plataforma repudia “em absoluto as declarações de Fernando Alexandre”, assim como “a clara intenção de, à imagem de outras áreas das políticas públicas com este Governo, se prepare mais um desvio de fundos públicos para os interesses privados, neste casos o setor imobiliário privado apostado em aproveitar o desinvestimento público em matéria de alojamento estudantil”. Por estas razões, a Universidade Comum entende que Fernando Alexandre deve colocar o lugar à disposição.
Na apresentação do novo modelo de ação social para o ensino superior, na terça-feira, o ministro da Educação defendeu que as residências públicas devem ter alunos de vários estratos sociais, caso contrário, dando prioridade aos bolseiros, irão degradar-se mais rapidamente.
Fernando Alexandre tinha declarado que é por “colocar na residência universitária os estudantes dos meios mais desfavorecido que se degradam”, acrescentando que “o que vai acontecer às residências depende das universidades e politécnicos, mas também depende dos estudantes”.
Fernando Alexandre tinha declarado que é por “colocar na residência universitária os estudantes dos meios mais desfavorecido que se degradam”, acrescentando que “o que vai acontecer às residências depende das universidades e politécnicos, mas também depende dos estudantes”.